"O Anjo Exterminador": As portas não estão trancadas, mas estamos presos e não conseguimos sair.


Luis Buñuel é um gênio do surrealismo. O Anjo Exterminador, é um dos seus filmes mais incríveis, foi seu o 26º filme, da fase adulta do cineasta, com roteiro e direção feitos por ele. Nessa obra Buñuel mostra-nos que estamos presos as nossas ideologias, status, a superficialidade aparente das classes sociais e nos provoca ao status de observador da nossa própria desgraça humana. 

A première do filme foi no Festival de Cannes em 1962 e dividiu críticas, alguns amaram, outros saíram confusos, dizendo-se não ter entendido nada.

O longa conta a história de um grupo de pessoas que após um concerto, são convidados pelo casal Edmundo e Lucia Nobile a jantarem em sua mansão. Antes do luxuoso jantar, todos os criados da casa com a exceção de um mordomo vão embora, deixando-o sozinho para realizar todos os serviços domésticos. Um estranho episódio, que não fica claro na narrativa acontece, pois os impede de sair daquela mansão. Na hora dos convidados partirem para suas respectivas casas: eles e os anfitriões se mostram incapazes de sair de um dos salões da mansão, onde acabam por passar a noite. O dia amanhace com eles todos ali incapazes de voltarem para suas vidas, seus status, suas mascaras. O estranhamento aumenta quando as pessoas se dão conta da impossibilidade de abandonar o espaço onde se encontram, ainda que nenhuma barreira concreta os impedisse. Progressivamente, a relação entre os personagens vai se transformando, as máscaras vão caindo e atitudes extremas vão sendo tomadas. Os personagens vão mostrando seus instintos mais humanos, fome, sede, tudo acontece, libido, morte, individualismo, egoismo, o desespero humano posto a prova.

Ao colocar uma mansão, como uma selva, cordeiros enquanto feras, nós percebemos que somos o que somos, devido as regras sociais, status e tudo que deriva disso. No "Anjo Exterminador", vemos nossas relações serem subjugadas pelos instintos de sobrevivência. Então nos perguntamos, se aqueles personagens ficassem presos ali por mais tempo o que teriam feito (?) Não é difícil responder a essa pergunta, pois, ao entendimento que Buñuel nos proporciona é que sem as convenções e regras, os seres sociais, tornam-se seres classe in natura, que serão capazes de fazer qualquer coisa para sua existência individual.

Quando assistimos "O Anjo Exterminador" a sensação de angústia, de querer entender logo o que se passa é certeira, é um surrealismo psicológico. Não há protagonista, parece que ali todos os personagens o são. E dessa forma numa narrativa aparentemente desconexa, sem muitas amarrações, o que vemos passar na tela do cinema é um observatório psicológico do ser humano. Observamos as mudanças comportamentais dos personagens, outrora sociais, cheio de pompas, status, ao eloquente mero ser humano, que sente as mais primordiais sensações de subsistência. Destroem sua mascara social e destroem o ambiente em que vivem para moldar a sua sobrevivência.

Buñuel retira as mascaras que vestem a sociedade e nos apresenta um filme clássico, que com certeza recomendamos.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Título Original: El Ángel Exterminador
Ano de Lançamento:  1962
Pais(es) de Origem: México
Direção: Luis Buñuel
Elenco Principal: Silvia Pinal / Enrique Rambal / Jacqueline Andere / José Baviera
Duração:  95 min
Gênero:  Drama
------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Nenhum comentário:

Postar um comentário